domingo, 9 de janeiro de 2011

Nunca Soube Por Que


Nunca soube por que, mas tinha medo de perguntar. Todos aqueles anos longes um do outro, os fizeram muito diferentes do que foram. Era a mesma pessoa que estava na sua frente, os mesmos olhos, o mesmo sorriso tímido, mas na essência ela parecia tão mudada... Um pouco mais forte e decidida, muito distante da menina que dormia com a luz acesa, que podia passar horas deitada vendo as estrelas.
Nunca soube por que, mas um dia se distanciaram. Eram feito irmãos. Mais do que isso, cúmplices mesmo. Ouviam as mesmas coisas, iam aos mesmos lugares, compartilhavam dos mesmos sonhos... Não tinha o que não soubessem, um da vida do outro. Mas o que levou anos para ser construído, tão facilmente se perdeu. De uma forma natural, assim mesmo. Vieram as brigas sem motivo, as desconfianças, tolice! Por que será que nos afastamos das pessoas assim? Nunca soube, queria tanto saber. Não conseguia prestar atenção em nada do que ela dizia, cinco anos depois pouco importava saber das suas viagens para Paris, ou Londres, ou Nova York, ou sabe-se lá para onde ela tinha dito que foi. A mente dele viajava, para alguma tarde de verão na praça, um chimarrão, uma roda de amigos, alguma coisa besta que fez todo mundo rir, o último dia em que consegue se lembrar dela, como sempre foi com ele, a melhor companhia.
Até que foi desperto do sonho, pela mesma voz que ouvia:
- Ooi? Tu não tá prestando atenção em nada do que eu tô dizendo?! O que que te deu??
- Tô sim. Continua. É que tu fez tanta coisa nesses cinco anos, e eu parei no tempo. Naquela tarde na praça, te lembra? Quando a gente achava que o maior problema era uma nota baixa na faculdade, e quando eu achava que a vida toda ia ser assim. Agora tu tá aí, sentada na minha frente, falando do teu novo mundo, e eu continuo perdido no mesmo lugar. Nessa cidade que não tem mar, nessa vidinha sem graça.
Aquele sorriso tímido que ela carregava, desapareceu. Mas mesmo assim, conversaram por mais umas duas horas, até que ela entrou naquele ônibus, e mais uma vez foi ficando longe. E ele imerso em seus pensamentos. Nunca soube por que, mas nunca mais voltou naquela praça, foi embora daquela cidade sem mar, daquela vida sem graça, nunca mais a viu, ou soube notícias. E ainda hoje se pergunta, por que será que as pessoas entram e saem assim das nossas vidas, sem aviso, sem saber o porquê.





Márcio 09/01/2011

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